O Mito
JEAN PIERRE VERNANT
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Renata Cardoso Beleboni
O estudo da Antigüidade no Brasil, seja ela grega, romana ou egípcia é sempre difícil na medida em que não temos aqui, salvo alguns vestígios arqueológicos, fontes primárias. As pesquisas que são realizadas dependem, em sua maioria, de obras de autores estrangeiros e de traduções, o que limita a quantidade e qualidade da documentação a ser analisada.
Embora, nos últimos anos tenha aumentado o número de pesquisadores da Antigüidade no Brasil, em relação à outras épocas históricas, estamos, ainda, em defasagem. Muitas faculdades e universidades, para preencherem suas cadeiras de História Antiga, contam com especialistas em outras áreas para ministrarem o curso. Mas estes problemas não são atuais. Os estudos dos povos antigos, desde muito tempo, estão sendo desvalorizados, seja
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Mestre em História pelo IFCH-UNICAMP. Professora estagiária do Curso de História do IFCH, de acordo com o Programa Estágio Docente (PED), desenvolvido por este Instituto.
Boletim do CPA, Campinas, nº 10, jul./dez. 2000
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Renata Cardoso Beleboni por uma conduta etnocentrica ou devido ao reducionismo e generalizações destes mesmos estudos.
Isto ocorreu, principalmente, na França, durante o século XIX. Nesta época, a Grécia Antiga foi considerada uma civilização dirigida por homens que eram conduzidos por histórias absurdas e extraordinárias, mas que mesmo assim, eram transmitidos, o que era inaceitável aos olhares cristão ou científico dos intelectuais. Neste século, eles pesquisavam sobre a origem dos mitos, o que estes realmente queriam dizer, qual seu sentido real.
Questionavam-se, ainda, se os mitos seriam uma forma de linguagem infantil e/ou ingênua, ou pura ignorância ou selvageria da humanidade. Se estes mitos legitimavam algo e se reclamavam uma convicção inabalável. Assim, partindo de diferentes interesses e metodologias, conferindo ao objeto formas, configurações e