O mito da criatividade em arquitetura
Existe grande confusão a respeito do que seria criatividade em arquitetura. Tal fato não seria preocupante se não tivesse tantos efeitos nocivos para a prática da arquitetura.
Por um lado, uma noção equivocada por parte dos leigos leva a uma demanda por objetos com os quais a arquitetura não deveria se envolver. Por outro, basear uma prática sobre uma noção errada de criatividade significa produzir arquiteturas irrelevantes, na melhor das hipóteses. Criatividade, segundo o dicionário Aurélio (1ª edição), significa qualidade de criador.
Criador é quem cria, e criar é dar existência a algo, tirar algo do nada; dar origem; produzir, inventar, imaginar. O dicionário já indica que o termo não designa uma qualidade especial que distingue um criador dos outros. O próprio ato de criar algo já é indicação de criatividade. Para leigos (usuários em geral, clientes, imprensa não especializada), estudantes de primeiros anos e até muitos arquitetos, criatividade é algo ligado ao imprevisto, ao insólito, ao surpreendente, cuja obtenção é dependente de um talento superior inato¹. Daí a existência e os elogios conferidos a edifícios de aparência estranha, cuja lógica é muito difícil de entender. Parece haver uma correlação entre criatividade e variedade, movimento, impacto visual, e outras categorias que levam ao estranhamento. Vista desse ponto de vista, a simplicidade e a elementaridade são sinônimos de monotonia e falta de criatividade. Existem experts em “criatividade” que sugerem todos os tipos de origens para a forma arquitetônica: em alguns círculos é considerado criativo, transformar um cinzeiro ou um croissant num edifício. Outros desenvolvem oficinas de sensibilização visando
“soltar” a criatividade de estudantes e arquitetos, aparentemente reprimida por uma vida tão preocupada em encontrar soluções para os problemas cotidianos.
Nenhuma dessas pessoas chega realmente a entender o que