o meu pe laranja lima
O Furtinho
A escola. A flor. A flor. A escola …
Tudo ia muito bem quando Godofredo entrou na minha aula. Pediu licença e foi falar com D. Cecília Paim. Só sei que ele apontou a flor no copo. Depois saiu. Ela olhou para mim com tristeza.
Quando terminou a aula, me chamou.
— Quero falar uma coisa com você, Zezé. Espere um pouco.
Ficou arrumando a bolsa que não acabava mais. Se via que não estava com vontade nenhuma de me falar e procurava a coragem entre as coisas. Afinal se decidiu.
— Godofredo me contou uma coisa muito feia de você, Zezé. É verdade?
Balancei a cabeça afirmativamente.
— Da flor? É, sim, senhora.
— Como é que você faz?
— Levanto mais cedo e passo no jardim da casa do Serginho. Quando o portão está só encostado, eu entro depressa e roubo uma flor. Mas lá tem tanta que nem faz falta.
— Sim. Mas isso não é direito. Você não deve fazer mais isso. Isso não é um roubo, mas já é um «furtinho».
— Não é não, D. Cecília. O mundo não é de Deus? Tudo que tem no mundo não é de Deus? Então as flores são de Deus também …
Ela ficou espantada com a minha lógica.
— Só assim que eu podia, professora. Lá em casa não tem jardim. Flor custa dinheiro …
E eu não queria que a mesa da senhora ficasse sempre de copo vazio.
Ela engoliu em seco.
— De vez em quando a senhora não me dá dinheiro para comprar um sonho recheado, não dá?…
— Poderia lhe dar todos os dias. Mas você some …
— Eu não podia aceitar todos os dias …
— Por quê?
— Porque tem outros meninos pobres que também não trazem merenda.
Ela tirou o lenço da bolsa e passou disfarçadamente nos olhos.
José Mauro de Vasconcelos, O Meu Pé de Laranja Lima
1. Em que espaço se passa este episódio da flor?
2. Quem conta esse episódio é uma personagem da história. Identifica-a.
3. O Godofredo apontou a flor no copo e falou com a professora. O que lhe teria dito?
3.1 Qual a reacção da professora?
4. Por que razão a professora demorou a arrumar a bolsa?
5. A professora