O manifesto comunista - eric hobsbawn
I Na primavera de 1847, Karl Marx e Frederick Engels concordaram em unir-se à chamada “Liga dos Justos” [Bund der Gerechten], desdobramento da “Liga dos Proscritos” [Bund der Geächteten], que existira antes, sociedade revolucionária secreta formada em Paris nos anos 1830s influenciada pela Revolução Francesa, de trabalhadores alemães – a maioria alfaiates e marceneiros – e ainda constituída, principalmente, de artesãos radicais exilados. A Liga, seduzida pelo “comunismo crítico” dos dois, ofereceu-se para publicar um Manifesto rascunhado por Marx e Engels como sua plataforma política e, também, para modernizar a organização acompanhando aquelas novas orientações. De fato, o movimento foi reorganizado no verão de 1847. Passou a chamar-se “Liga dos Comunistas” [Bund der Kommunisten], comprometida com o objetivo de “derrubar a burguesia”, promover “o governo do proletariado”, por fim “à velha sociedade que repousa sobre contradições de classe [Klassengegensätzen] e estabelecer “uma nova sociedade sem classes ou propriedade privada”. Um segundo congresso da Liga, também realizado em Londres, em novembro-dezembro de 1847, aceitou formalmente os objetivos e os novos estatutos, e convidou Marx e Engels a redigir o novo Manifesto, em que se exporiam os objetivos e políticas da Liga. Embora ambos, Marx e Engels tenham preparado rascunhos e o documento claramente manifeste pontos de vista comuns, o texto final, quase com certeza, foi redigido por Marx – pressionado duramente pela Comissão Executiva, porque Marx, como outras vezes, praticamente só conseguia concluir seus escritos se pressionado por prazo rigidamente demarcado e relembrado. A ausência virtual de rascunhos sugere que tenha sido redigido rapidamente [i]. O documento resultante, de 23 páginas, intitulado Manifesto of the Communist Party [Manifesto do Partido Comunista] (mais conhecido, a partir de 1872, como O Manifesto Comunista), foi “publicado em fevereiro de 1848”, impresso na