O mal estar contemporaneo
O mal-estar contemporâneo e a felicidade paradoxal
Aida Ungier “A grande ocupação, e a única que se deve ter, é viver feliz”.
(Voltaire)
1 - Apresentação: Se a modernidade inventou a felicidade a contemporaneidade tornou o bem-estar uma paixão universal. A incitação ao gozo que invade o espaço da vida cotidiana parece desmentir Freud ao afirmar, em 1929, ser a felicidade um projeto não cogitado pela Criação. No entanto, esse hedonismo paroxístico, não impede que a dor psíquica nos assalte com seu rosário de sintomas, cabendo ao psicanalista a tarefa de acolher os exilados da corrente civilizatória. Hoje, carece acudir sujeitos obsedados pela onipresente voz de comando da mídia, que demanda, além da juventude eterna, o corpo perfeito, a potência sexual e profissional ideais, o sucesso, o novo, que se torna obsoleto já no nascedouro. Se o humano se constrói a partir do pulsional interagindo com o meio, precisamos desvendar o que no meio acontece para compreender as conseqüências subjetivas dessa interação. As histéricas, resistindo ao saber da medicina tradicional do século XIX, estimularam a busca de uma nova palavra da ciência, que decifrasse o discurso enigmático de seus sintomas – corpos desatinados que pareciam revelar as conseqüências funestas da moral sexual civilizada. Analogamente, a problemática sobre a qual me deterei, as compulsões, mais especificamente, o consumo desenfreado, ainda que represente apenas um recorte no universo do sofrimento psíquico, expõe a íntima relação entre a produção sintomática e a configuração do real no horizonte da contemporaneidade. 2 - Conhecendo a sociedade do hiperconsumo Observando o crescimento acelerado do consumismo nas últimas décadas, pude constatar que suas raízes são comuns às demais condutas de excesso atuais, assim como, 1
surpreendentemente, essas