o livro das ignorãças
O LIVRO DAS IGNORÃÇA
ARTE DE INFANTILIZAR FORMIGAS
Nos fundos da cozinha meu avô tentou cortar o phalo com o lado grosso da faca.
Não cortou.
Ia pinchar aos urubus.
Nào pinchou.
Bem antes, em 1922, na Vila do Livramento, onde nascera, meu avô apregoava urinóis enferrujados.
Ele subia no Coreto do Jardim:
Olha o urinol enferrujado.
Serve para o desuso pessoal de cada um.
Já pertenceu a Dona Angida dos Cocais, senhora de nobrementes. É barato e inútil.
Quem se abastece?
Meu avô sabia o valor das coisas imprestáveis.
Seria um autodidata?
Era o próprio indizível pessoal.
Sumário
Uma didática da invenção...........................................
Os deslimites da palavra............................................
Mundo pequeno..........................................................
1a. Parte
UMA DIDÁTICA DA INVENÇÃO
"As coisas que não existem são mais bonitas"
Felisdônio
I
Para apalpar as intimidades do mundo é preciso saber: a) Que o esplendor da manhã não se abre com faca b) O modo como as violetas preparam o dia para morrer
c) Por que é que as borboletas de tarjas vermelhas têm devoção por túmulos
d) Se o homem que toca de tarde sua existência num fagote, tem salvação
e) Que um rio que flui entre 2 jacintos carrega mais ternura que um rio que flui entre 2 lagartos f) Como pegar na voz de um peixe
g) Qual o lado da noite que umedece primeiro. etc. etc. etc. Desaprender 8 horas por dia ensina os princípios. II
Desinventar objetos. O pente, por exemplo.
Dar ao pente funções de não pentear. Até que ele fique à disposição de ser uma begônia. Ou uma gravanha.
Usar algumas palavras que ainda não tenham idioma. III
Repetir repetir - até ficar diferente.
Repetir é um dom do estilo. IV
No Tratado das Grandezas do Ínfimo estava escrito: Poesia é quando a tarde está competente para dálias. É quando
Ao lado de um pardal o dia dorme antes.
Quando o homem