Estudos Liter Rios 01 Figura O E Metalinguagem
UFVJM
INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS LITERÁRIOS
Unidade 01
METÁFORAS, IMAGENS,
DERIVAÇÕES (META)CRÍTICAS
Leitura comparada de textos literários (em prosa e verso) a partir da questão da representação e da figuração. Observação e análise do funcionamento de algumas figuras de linguagem (comparação, metáfora, metonímia, hipérbole, anáfora, antítese, paradoxo, catacrese, eufemismo, sinestesia, ironia, entre outros). Leitura comparada de textos literários (em prosa e verso) que trabalhem a ironia e/ou a metalinguagem. Observação das técnicas de desmontagem, desnudamento, autocrítica e de seus efeitos para a revisão de perspectivas. Prof. Dra. Rebecca Pedroso Monteiro
cego Estrelinho
O era pessoa de nenhuma vez: sua história poderia ser contada e descontada não fosse seu guia, Gigito Efraim. A mão de Gigito conduziu o desvistado por tempos e idades. Aquela mão era repartidamente comum, extensão de um no outro, siamensal. E assim era quase de nascença. Memória de Estrelinho tinha cinco dedos e eram os de Gigito postos, em aperto, na sua própria mão. O cego, curioso, queria saber de tudo. Ele não fazia cerimónia no viver. O sempre lhe era pouco e o tudo insuficiente. Dizia, deste modo: ― Tenho que viver já, senão esqueço-me. Gigitinho, porém, o que descrevia era o que não havia. O mundo que ele minuciava eram fantasias e rendilhados. A imaginação do guia era mais profícua que papaeira. O cego enchia a boca de águas: ― Que maravilhação esse mundo. Me conte tudo, Gigito! A mão do guia era, afinal, o manuscrito da mentira. Gigito Efraim estava como nunca esteve S.
Tomé: via para não crer. O condutor falava pela ponta dos dedos. Desfolhava o universo, aberto em folhas. A ideação dele era tal que mesmo o cego, por vezes, acreditava ver. O outro lhe encorajava esses breves enganos: ― Desbengale-se, você está escolhendo a boa procedência! Mentira: Estrelinho continuava sem ver uma palmeira à frente do nariz. Contudo,