o legado do urbanismo
Paradigma realizado ou projeto inacabado?
Vicente del Rio e Haroldo Gallo
Seguramente no Brasil, mais do que em muitos outros países, o movimentomoderno na arquitetura e no urbanismo foi emblemático, deixando um legadobastante significativo. Se, já na década de vinte, suas expressões construtivas e plásticas marcavam presença no cenário nacional, período em que a base ideológica do movimento emerge, se estrutura e fundamenta a partir das experiências européias do entre-guerras, foi com o Estado Novo que ele ganharia corpo e consistência, tornando-se o paradigma da cultura nacional, ganhando volume e densidade até o seu clímax com a construção de Brasília. Paradigma que, se nunca chegou a ser plenamente realizado, encontrou respaldo no ideário de consolidação da nação brasileira, serviu a gerações de jovens arquitetos, e ainda deixa marcas nítidas em todas as cidades brasileiras.
O ideário modernista internacional foi sumária e explicitamente expresso também no Brasil, pela vontade de construção de uma sociedade mais igualitária, de substituição da exaurida estética classicizante e historicista por uma "estética nova" da máquina, de industrialização nas cidades e promoção de uma nova classe operária – lastro político do Estado Novo- e de transformação de um país de caráter majoritariamente rural para majoritariamente urbano. Em síntese, este ideário de transformação e progresso, nosso espírito nacional e Zeitgeist da época – coincidente com nossa base positivista de ordem e progresso expressa na bandeira nacional– iria inevitavelmente apoiar-se nas expressões urbanísticas, concretizadas tardiamente se comparadas às expressões arquitetônicas.
Nos anos trinta e quarenta, em nível dos modelos urbanísticos adotados no Brasil, ao contrário da arquitetura modernista já plenamente consolidada, ainda persistia o embate entre o modelo que, a exemplo de Choay, poderíamos chamar de culturalista, e o progressista, que logo