O Julgamento De S Crates
1. O Homem
Mas Sócrates mesmo é uma contradição. Como observou Isidor Stone:
Sócrates é reverenciado como um não conformista, mas poucos reconhecem que ele se rebelara contra a sociedade aberta e que era admirador de sociedades fechadas. Sócrates era um daqueles atenienses que desprezavam a democracia e elogiavam Esparta.
O paradoxo socrático estava nele mesmo, que declarava que nada sabia em que pese apontado pelo oráculo como o mais sábio dos homens.
Filho de escultor (Sofroniscos) e de parteira (Fenereta) Sócrates era cidadão diligente, combatendo na guerra, salvando a vida de Alcibíades no campo de batalha. Casou-se com Xantipa, que detém reputação de rabugenta. Por conta das diatribes da mulher passava as horas na rua. Proseava, perguntava, desconcertava. Seu método dialético é chamado de maiêutica, ou “parto das ideias”; o interlocutor descobre a verdade, parindo o conhecimento. Irreverente, Sócrates suscitou ódios e invejas que redundaram na acusação de impiedade. Sua morte é traço definidor na história da filosofia, provocando reações iconográficas de Charles-Alphonse Dufresnoy, Étienne de Lavallée-Poussin, Saint-Quentin e Pierre Peyron. Descalço, sem camisa, destituído de bens e de categoria social, Sócrates lembra professor inconformado, cujo principal problema resume-se na delimitação do próprio objeto ensinado.
Como anotou Del Vecchio:
Discutia Sócrates de modo peculiar, multiplicando as perguntas e as elas dando respostas de maravilhosa e concludente simplicidade. Ao contrário dos sofistas, que tudo afirmavam saber, declarava ele nada saber. Molestava-os com a sua ironia, e confundia-os, interrogando-os (ironia-pergunta, interrogação) sobre questões aparentemente simples, mas, no fundo, muito difíceis. Deste modo, constrangia-os, indiretamente, a darem-lhe razão.
Sócrates foi acusado por Meleto, Aniton e Lícon de não reconhecer os deuses da cidade, introduzir novas divindades e de corromper a juventude. A ação intentada contra