O Jogo duro do dois de julho: O "partido negro" na independência da Bahia
INDEPENDÊNCIA DA BAHIA
João José Reis
In: REIS, João José, e SILVA, Eduardo. Negociação e conflito a resistência negra no Brasil escravista. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
(essa versão em texto foi obtida junto ao site http://www.visionvox.com.br, um projeto de acesso à leitura para indivíduos com baixa visão).
Menino, é 2 de julho
Menino, é jogo duro
C. Evangelista, J. Alfredo e A. Risério, Reggae da Independência
No dia 2 de julho de 1823, as tropas brasileiras que derrotaram os portugueses entraram triunfantes em Salvador, até então ocupada por forças adversárias. Os baianos celebram todos os anos este acontecimento como verdadeira festa nacional. A Bahia tem a personalidade de um país e o Dois de Julho é seu principal mito de origem.
Hoje o Dois de Julho é uma mistura de festa da ordem com festa popular. No início, a festa era só do povo, mas aos poucos as autoridades foram se apropriando de partes dela.1 A disputa pelo mito nunca foi decidida, é como se o mito estivesse irremediavelmente impregnado de sua origem histórica: o conflito.
A história das lutas da Independência na Bahia não foi apenas a história de um conflito entre brasileiros e portu-gueses. Se estes últimos formavam um grupo com interesses relativamente coesos, entre os primeiros havia divisões étnicas, ideológicas, políticas e sociais. Essas diferenças se refletiram nas atitudes de maior ou menor radicalismo frente ao colonialismo português e na escolha do regime político que deveria sucedê-lo.
Neste capítulo discutimos sumariamente o desenrolar dos acontecimentos da
Independência na Bahia, destacando o posicionamento das várias forças sociais. Em seguida nos detemos na análise das atitudes dos negros e pardos, livres ou escravos, diante dos acontecimentos, e discutimos os temores da elite frente ao que se chamou na época "partido negro" da Independência. O "partido negro" era ao mesmo tempo uma
construção