Da autonomia ao estrangulamento do tráfico negreiro no Atlântico sul

Da autonomia ao estrangulamento do tráfico negreiro no Atlântico sul O processo de autonomização brasileiro em relação à Portugal se deu em um contexto político conturbado. Com a vinda da corte portuguesa e de seu aparato administrativo para terras tupiniquins, o centro de gravidade do império lusitano acompanha a família real em sua travessia atlântica, tornando Portugal destituído de seu papel de metrópole de um império ultramarino. Para Cloclet, existia a interpretação de que a manutenção da unidade do império português configurava um requisito para a sobrevivência do mesmo como tal e até mesmo da monarquia¹. Com a mudança de sede do império, o vislumbre de uma nação em caráter não colonial se fazia perceptível, contanto que preservada a integridade de um império luso-brasileiro². Porém, a permanência da família real em uma “ex-colônia” gerava descontentamentos em terras portuguesas, que ameaçavam a almejada unidade desse império, pois se fazia presente o sentimento de que “...Portugal estava órfão, sem seu rei, e que o epicentro do império residia no Rio de Janeiro...” (SOUZA, 1999, p. 58), sendo tal descontentamento o combustível para a revolução liberal do Porto.
Com a revolução liberal do Porto em 1820, criou-se uma monarquia constitucional, com a criação das Cortes (primitivo parlamento português), sendo o órgão supremo de administração de todos os territórios portugueses, requisitando a volta de D. João VI à Portugal, dando início à regência de D. Pedro I em 1821. A princípio, com a revolução constitucional do Porto, criou-se a expectativa por parte da então elite
¹ SOUZA, Iara Liz Carvalho. Pátria coroada, São Paulo: UNESP, 1999.
² Idem brasileira, de que as colônias teriam maior autonomia em relação à Portugal. Em 1822 tal esperança minguava, com a outorga da Carta Régia, nomeando o português Ignácio Luiz Madeira de Mello para o comando das armas, estando esse sob autoridade direta das Cortes em Portugal. Os brasileiros se encontravam divididos