O jardineiro fiel
Esses artífices puxam seus fios e manipulam suas cobaias – seres anônimos mergulhados na mais profunda miséria, no mais absoluto desamparo -, convertendo suas tragédias pessoais em estatísticas ocultas, uma vez que dos dados oficiais não constam suas passagens pelo sistema de saúde, muito menos suas mortes – talvez nem mesmo suas vidas, que nada significam para os altos escalões do poder.
O filme começa com o assassinato de uma ativista política (Weisz) no Quênia. Seu marido, o diplomata inglês Justin Quayle, interpretado por Ralph Fiennes, inconformado com essa perda brutal, parte em busca da verdade, com a mesma obstinação que lhe move quando, nas horas vagas, se dedica ao seu jardim. Esse drama social, ao expor as delicadas relações de poder entre a indústria farmacêutica e os bastidores do governo inglês, revela as entranhas desta união perversa – que se concretiza com o intuito de gerar lucros e fortunas incalculáveis, além do tão almejado poder sócio-econômico, sem medo de tocar nas feridas, ainda abertas, da neocolonização britânica na África.
A narrativa fragmentada, ao se mover entre o passado e o presente, através de recorrentes ‘flashbacks’, impregna o filme da presença de Tessa Qualyle, interpretada por Rachel Weisz, apesar de sua morte ocorrer logo no início da trama, que é pontuada pela excelente fotografia de César Charlone, parceiro de Meirelles em Cidade de Deus. O diretor se vale de câmeras portáteis que captam o povo africano com total naturalidade, sem que eles percebam, naquele momento, que estão sendo filmados. Este recurso confere às