O jardineiro da alma e a fadiga por compaixão emergente do compromisso de cuidar, amparar e socorrer
Franciele Sassi* Contato: franciele.sassi@hotmail.com
RESUMO
Quem é o jardineiro se não aquele que cultiva as suas próprias plantas e rega as suas próprias flores? Quem é o jardineiro se não aquele que cuida do seu próprio jardim? O jardineiro da alma. Também um terapeuta. Um Mestre. É aquele que cultiva as plantas e flores da alma daquele que solicita pelos seus cuidados, convidando-o a penetrar nas profundezas do seu terreno para aprender a manuseá-lo. O jardineiro é como um terapeuta: com zelo, dedicação e afeto pelo outro pode fazer florir toda uma vida. Porém, mesmo que estes profissionais sejam inspirados pelo amor divino que sustenta as suas práticas, também eles não estão livres do sofrimento frente ao ímpeto de socorrer e dos sentimentos de impotência diante da finitude humana. Assim como o jardineiro da alma precisa conhecer o seu próprio jardim anteriormente ao adentrar nos jardins alheios, o terapeuta também precisa olhar para si e para a diversidade de sentimentos que experimenta ante do compromisso de cuidar. A Fadiga por Compaixão, síndrome que pode acometer o profissional na perspectiva de cuidador, surge em razão da exaustão dos esforços necessários frente ao envolvimento afetivo com o outro e do contato intenso com a sua dor e sofrimento. Ao mesmo tempo em que o desejo de socorrer é capaz de transcender a experiência humana, o desgaste tanto físico como psíquico pode exaurir a capacidade empática do profissional, a ponto de impossibilitá-lo de aproximar-se do outro sob diferentes formas de cuidar. Por isso, antes mesmo de aceitar o convite para visitar os jardins alheios, é preciso que o jardineiro da alma conheça a inconstância arenosa e entre em contato com as vulnerabilidades do seu próprio jardim, mas também cultive as sementes da empatia, compaixão e amor para que ele possa se reaproximar e promover o cuidado