O infante-Poema Mensagem
Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,
E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.
Quem te sagrou criou-te português.
Do mar e nós em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!
Este poema integra-se na segunda parte da "Mensagem", que se designa "Mar Português".
Podemos considerar, neste poema, três momentos:
O primeiro verso, uma espécie de mote ou aforismo, em ritmo ternário: "Deus quer, o homem sonha, a obra nasce".
Os três sujeitos (Deus, o homem e a obra), dependentes mutuamente, praticam as suas acções: o primeiro quer, o segundo sonha, e a terceira nasce. Mas, sem a vontade do primeiro, o segundo não sonharia e a terceira não podia nascer.
O segundo momento vai até ao fim da segunda quadra e, sendo a glosa do mote, subdivide-se em três partes:
1. A primeira parte, referente a Deus, vai até "Sagrou-te". Deus, o agente da vontade, quer a unidade da terra. Ele é o agente dum projecto divino de unidade. Daí haver no poema um grande número de palavras ou expressões que sugerem a ideia de uno ou de unidade: uma, unisse, não separasse, inteira, redonda, fim do mundo.
2. A segunda, referente ao homem, vai até ao fim da primeira quadra. Aí se desenvolve a ideia de que o homem sonha e é o agente da vontade divina. No poema, esse homem animado por um projecto divino é o Infante. Ele é o herói navegante em busca do caminho da imortalidade, cumprindo um dever individual e pátrio: a realização terrestre de uma missão transcendente. E, por outro lado, ele é também o herói em busca de um caminho de universalidade. Daí o uso do artigo definido em "O Infante" e "o homem", com um valor universalizante. Mais do que a identificação do Infante com o homem em geral,