Predestinação Divina
A Mensagem é um livro poético que, inicialmente, se chamava Portugal, através do qual Pessoa pretende conduzir os portugueses a tomar consciência do que já foram (na origem da formação de Portugal – “Brasão”-, durante os Descobrimentos – “Mar Português”) para que pudessem imaginar o que ainda poderiam ser – “Encoberto”.
Trata-se de um poema que procura intervir na sociedade portuguesa, criando nos Portugueses o espírito anímico (=psíquico) necessário (propiciador) para a realização de uma grande obra no domínio do espírito: o Quinto Império.
De que modo? Remetendo (conduzindo/ transportando) os portugueses para o universo do mito, concebido/visto como o motor da história que possibilitaria a redescoberta do verdadeiro espírito português.
Essa vasta obra no domínio do espírito – o Quinto Império – faria parte do nosso destino e estar-nos –ia consignada/predestinada por Deus (Deus haver-nos-ia predestinado a uma grande obra no domínio do espírito). Por isso, a Mensagem abre com a epígrafe latina:
“Benedictus Dominus Deus noster qui dedit nobis signum” (Bendito seja Deus Nosso Senhor, que nos deu o Sinal) (que constitui uma alusão à lenda do milagre da batalha de Ourique, segundo a qual Cristo havia aparecido a D. Afonso Henriques e lhe havia assegurado não só essa, mas muitas outras vitórias e ainda a proteção futura do seu reino).
Efetivamente, são vários os momentos nesta obra em que está perceptível esse conceito de predestinação histórica dos Portugueses. Desde logo, no poema de abertura da primeira parte – “Brasão” - "O dos Castelos" (em que a Europa surge personificada numa figura feminina e Portugal, metonimicamente, é caracterizado como cabeça dessa figura) - Portugal surge como cabeça da Europa fadado por predestinação divina a ser a cabeça do Quinto Império ( surge predestinado a salvar a grandeza europeia):
“Fita com olhar esfíngico e fatal,
O Ocidente, futuro do passado”
(Fernando Pessoa,