O inconformismo
“Quando surgiu a primeira lei, surgiu o primeiro dissidente”. Aurélio Veloso
Introdução: O presente trabalho é uma reflexão pessoal sobre o tema do inconformismo. Refere a sua importância e as diferentes áreas onde ele se pode manifestar.
As manifestações culturais, os pensamentos, as acções e as atitudes dos seres humanos sempre oscilaram entre as linhas rectas do conformismo, da normalização, do respeito e do seguimento do estabelecido e a ruptura e o desvio em relação a essas mesmas linhas, o que muitas vezes contribuiu para a mudança social, mas que, em muitos casos, acabaram por ser integrados na cultura dominante, que, ao assimilá-los, lhes retirou parte do seu significado revolucionário, deformando-os, tornando-os inócuos, meros fenómenos de moda destinados a serem postos em prática e consumidos como produtos do próprio sistema que pretendiam criticar, pôr em causa e derrubar. Os “enfant terrible” vêem-se assim no dilema dos seus produtos, inicialmente contestatários, passarem a ser parte da engrenagem que queriam denunciar, sabotar ou apenas criticar, manifestando os seus sentimentos e as suas ideias. Em muitos casos, parecem ter baixado os braços, rendendo-se e vendendo-se à óptica do mercado e engordando; noutros, foram levados ao suicídio derivado do descontrolo e dos excessos. Alguns são eliminados ou ignorados. No entanto, outros inconformistas surgem em seu lugar. Será que ainda fazem sentido as afirmações dos poetas “há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não!” (Manuel Alegre), “mudam-se os tempos, mudam-se as vontades” (Camões), “não, não vou por aí, só vou por onde me levam meus próprios passos” (José Régio) ou a frase do filósofo Heráclito segundo o qual “só a mudança permanece”? Resta perguntar – Será que desejamos a mudança e, em caso afirmativo, o que fazemos para que tal aconteça? Ou, pelo contrário, vivemos numa época de conformismo, sujeitos ao que Nietzsche referia como a “moral do