O imaginário da aventura
Vera L. M. Costa
O que leva uma pessoa a caminhar várias distâncias, se embrenhar pela floresta, escalar paredes e montanhas, voar pelos céus com asas e pára-pentes de material sintético, embrenhar-se no mar, deslizando em ondas ou em corredeiras de um rio em velocidade, ou mergulhando em profundidades para pescar ou simplesmente para apreciar as belezas de um mundo submerso? O que faz com que sujeitos com relativo nível sócio-econômico e prestígio social se desliguem da segurança e do conforto da vida urbana e sigam em busca de uma aventura de vida simples que lhes exige audácia e ousadia, atenção constante e também muitas restrições? Que fascínio as atividades esportivas ecoturísticas de aventura e risco calculado exercem sobre esses atores, levando-os a dedicar-lhes grande parte do tempo de suas vidas, testando seus limites? Que sensações assolam esses indivíduos? Como investem em perseverança e num planejamento metódico e rigoroso? O desafio de conhecer novos lugares, atingir o desconhecido, por-se diante de outras comunidades, de outras paisagens pouco, ou ainda não exploradas, parecem se constituir em objetivos do lazer para os atores que adotam esse estilo de vida. Toda a criação pessoal, de dedicação a essas práticas, implica na superação de situações limitantes, em cuidados pessoais com o condicionamento físico, com a alimentação, com a adaptação do organismo às necessidades ambientais compatíveis com a atividade e com um planejamento metódico e rigoroso. Há um espírito de aventura que permeia esses esportes que se apresentam na sociedade com íntima ligação à lógica atual, que interage diretamente com o aumento da incerteza política, econômica, social e cultural. Próprios de um mundo economicamente globalizado, hiperindividualista, adotam em suas práticas uma maior percepção do risco, fato gerado pelas múltiplas contingências do social. Esses esportes vão ao encontro da vontade de autonomia e