O Homem de Barro
O mundo é uma representação criada pelo consciente e inconsciente de cada indivíduo, assim, o real é instável, não sendo apresentado em uma única e imutável face. Somos construtores daquilo que vemos, sentimos.
Para alguns o tempo apresenta-se tenebroso, a vida não corre, arrasta-se. Assim, denomina-se um mundo no preto e branco, onde a morte parece ser mais viva do que a própria vida.
São nos olhos dos retratos feitos por Lucian Freud em que se instalam todo o peso do mundo, talvez não o do nosso, mas do de Lucian.
incômodos, esbarrei em uma pintura, que diferentemente de todas as outras apresentava cores quentes em sua composição, uma cabeça de galo decapitada.
Como aquela imagem tão peculiar poderia representar o artista?
Em meio a tantos rostos organicamente vivos um animal, morto e ainda assim naquele contexto ele parecia estar cheio de vida.
Todo o enigma decifrou-se com a última imagem a ser apresentada ao público, o seu autorretrato, marcado pela total ausência de luz e pelo seu olhar vazio.
Uma alma solitária, escondida no “bosque do artista”, no caos de sua mente.
Lucian Freud encontrou a vida em seu próprio fim.
Figuras tristes e sombrias, distantes, petrificadas personificam o seu criador. Ele mesmo o afirma: “meu trabalho é autobiográfico, é como um diário”. Por tanto, em cada traço nota-se um aspecto pesaroso, uma gravura que a distância parece algo simples, ao nos aproximarmos revela-se um emaranhado de riscos, conturbados, imprevisíveis, complexos.
Como se esses fatores não fossem suficientemente
por: Tatyane Tieri
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