O Gramático
É difícil determinar exatamente qual o ”objetivo” de O Gramático, porque isso depende do nível da análise. Se formos nos ater estritamente ao texto, o principal objetivo parece ser demonstrar que um mesmo termo pode significar uma qualidade e uma substância. Esse objetivo é exposto no capítulo II, onde Anselmo afirma que não há nenhuma contradição nessa afimação.
Por trás desse objetivo “técnico”, com certeza existe, no entanto, um motivo “teológico”. Afinal, Anselmo é considerado um dos fundadores da escolástica, principal movimento filosófico da Idade Média e que estudava, como se sabe, a relação entre fé e razão - procurando legitimar a primeira através da segunda. Para isso, a escolática irá se debruçar, entre outras coisas, sobre questões de natureza lógica e linguística – provavelmente devido ao fato do suporte material da fé serem “escrituras”, como a Bíblia. Para legitimar uma afirmação como “Deus é o Senhor”, por exemplo, é preciso analisar a possibilidade dessa predicação, o que por sua vez passa pela categorização de “Deus”, “Senhor”, etc.
De fato, grande parte da abordagem escolástica é inspirada em Aristóteles. Como se sabe, nas suas Categorias o filósofo grego estudou, justamente, as condições necessárias para a predicação. Para isso, realizou classificações exaustivas que agrupavam as entidades segundo suas marcas características – as categorias.
O ponto de partida de O Gramático, por sinal, é justamente uma afirmação que fez Aristóteles nessa obra: diz ele, na parte 5 : “branco significa apenas uma qualidade”. O por quê dessa afirmação ser tão problemática para Anselmo remete, justamente, a questões religiosas. Como é possível, por exemplo, que “divindade” signifique apenas divindade e nada mais?
De qualquer forma, o aspecto teológico não é discutido no Gramático, mas apenas o linguístico e filosófico. Logo no