O esclarecimento e o indivíduo
“Certamente, o progresso é contraditório, alia-se também à possibilidade de emancipação, ao criar condições para uma vida mais confortável e segura para todos, mas como o progresso é também progresso da dominação, a regressão é inevitável.” (CROCHIK, J. L., 2003, p.17).
Em sua tentativa de dominar a natureza, através do seu desencantamento, para assim tornar os homens seus senhores, o esclarecimento acaba por desencantar também o próprio homem. Em seu “O Conceito de Esclarecimento”, Adorno e Horkheimer (1985) indicam como o esclarecimento se deu historicamente e sua relação dialética com o mito, já que em sua crença cega no dado, nas fórmulas e na matemática o esclarecimento perde sua capacidade reflexiva e o conceito, tornando-se totalitário e dogmático, tal qual o mito que repudia. A respeito do mito, os autores o vem como uma forma de conhecimento primitiva, ainda que posterior à magia xamã, que busca explicar e se apoderar dos fenômenos naturais associando-os às divindades e seus movimentos, dessa forma, os nomeia e entende. Sobre o inexplicável, aquele elemento de um objeto que é a própria negação dele mesmo, aparece a ideia de “mana”, conforme desenvolvem os autores:
“No mundo luminoso da religião grega perdura a obscura indivisão do princípio religioso venerado sob o nome de ‘mana’ nos mais antigos estágios que se conhecem da humanidade. Primário, indiferenciado, ele é tudo o que é desconhecido, estranho: aquilo que transcende o âmbito da experiência, aquilo que nas coisas é mais do que sua realidade já conhecida.” (ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p.25).
É essa ideia que o esclarecimento teme, o não entendido, aquilo que não pode abarcar. Tudo tem que ser entendido e integrado ao sistema, se não é negado. Dessa forma, o homem pensa se ver livre do medo, tendo o esclarecimento como um mecanismo de defesa