O discurso sobre Pathos no Mundo Antigo e os obstáculos epistemológicos à sua utilização no Mundo Moderno (Introdução)
De acordo com o historiador Werner Jaegger (2001) o discurso sobre o pathos, como sofrimento ou paixão, remete-nos primeiramente ao surgimento do Teatro grego. A Tragicomédia da Grécia Antiga se fundamentava na tentativa de representar e tornar ‘transmissível’ algo da ordem do excesso e da ‘desmesura’. A noção de passividade também estava implicada no conceito grego de pathos. Tudo o que se faz, ou acontece de novo era chamado pelos filósofos de ‘paixão’ relativamente ao sujeito a quem isso acontece, e de ‘ação’ relativamente àquele que faz com que aconteça. Encontramos nessa época uma primeira distinção entre a noção de ‘agente’ e ‘paciente’, o primeiro como aquele que age sobre a matéria e o segundo como um ser mutável caracterizado pelo movimento. O pathos era pensado como algo que regia as atitudes humanas exigindo uma reação espontânea, como força que impele ao movimento.
O conceito de orthos, que resultou em ‘ortopedia’ (como arte de corrigir as deformidades do corpo) e também em ‘ortodoxia’ (cumprimento exato de uma doutrina), se opunha ao conceito de pathos. As maneiras de se conhecer e ensinar sobre o orthos, sobre a conduta irrepreensível, se relacionam com o conceito de historie, ou logos, pensamento inaugurado por Heródoto e definido como uma forma narrativa de ‘ver e saber’ sobre algum acontecimento (fundamentos da relação entre observação e pesquisa). O surgimento da História marca a ruptura entre o mundo mítico (que valorizava a expressão poética e se remetia às origens atemporais de pathos) e Mundo Histórico ou Filosófico, fundamentado no ‘orthos-logos’, como o correto conhecimento dos eventos do mundo e suas causas.
Jaeegger (2001) afirma que a Medicina, no Mundo Grego, era mais próxima da ‘ciência ética de Sócrates’ do que da Medicina contemporânea, pois tratava de orientar o paciente no sentido de recobrar o equilíbrio