o diabo veste prada
Paulo Sabrosa
1-Antecedentes históricos
A prática da vigilância epidemiológica, com as características atuais, teve início na
Europa, no século XIX, a partir da organização do campo da saúde pública e de modelos de registro e classificação de doenças. Tinha como propósito a identificação precoce das epidemias com grande potencial de difusão e de letalidade que acompanharam a urbanização e a etapa inicial da industrialização na Europa, procurando proteger a vida e os interesses dos grupos sociais dominantes, que precisavam de tempo para se afastarem das cidades em perigo. ( W. FARR )
Antes
desta
modalidade
de
vigilância,
já
haviam
sido
regulamentadas
e
implementadas ações de fiscalização sanitária com o objetivo de reordenar os espaços de trabalho e de moradia, reduzindo a exposição das pessoas a lugares insalubres, segundo as concepções da higiene e da teoria dos miasmas.
Esta proposta de controle público dos espaços urbanos, na época justificada pela necessidade de reduzir a mortalidade e assegurar a reprodução da força de trabalho, ficou conhecida como polícia médica, e foi um importante componente do movimento sanitário que deu início ao processo de transição demográfica nos centros industriais em formação.
O desenvolvimento da teoria do processo infeccioso, com a identificação de muitos agentes causais de doenças e seus modos de transmissão, veio possibilitar outras formas mais diretas de controle, que não dependiam mais de reformas da cidade e do processo de trabalho.
Inicialmente restrita ao monitoramento e controle das enfermidades transmissíveis, a vigilância de doenças tinha como principal instrumento a notificação compulsória de casos. Quando era identificado um surto, ou mesmo um caso isolado com potencial de dar início à propagação do processo infeccioso, seguiam-se ações de investigação epidemiológica, identificação do agente infeccioso, isolamento físico do doente e controle