O Desejado Corrigido
INTRODUÇÃO: CONTEXTO SÓCIO-CULTURAL E POLÍTICO
No momento em que surge a Mensagem, vivia-se em Portugal um descrédito político e económico muito acentuado. Fernando Pessoa tenta, então, renovar o mito sebastianista, de forma a elevar o moral dos Portugueses que estavam adormecidos e nada faziam para reerguer a Pátria, outrora esplendorosa. No fundo, Pessoa vai glorificar a história de um povo que, apesar de, no presente, se encontrar num estado de decadência, ainda irá procurar um tempo novo de realização, impulsionado pelo espírito messiânico de D. Sebastião.
ENQUADRAMENTO
O poema que venho hoje apresentar denomina-se “O Desejado”. Insere-se na terceira parte da Mensagem, “O Encoberto”, onde Pessoa aponta para a possibilidade de emergir do nevoeiro a figura lendária de D. Sebastião que iria arrancar os portugueses do estado letárgico em que se encontravam.
D. Sebastião já era «desejado», ainda antes de ter sido concebido e de ter nascido, tendo-se depositado nele a última esperança de que o país não caísse nas mãos de um rei castelhano, perdendo assim a sua independência. O nascimento de D. Sebastião foi, na altura, encarado como um acontecimento miraculoso e, em simultâneo, sinal inequívoco de que ele estaria predestinado a lançar Portugal num futuro brilhante.
Pela temática que o poema encerra: vinda do Encoberto, “por entre sombras e dizeres”, é fácil ver-se aqui o mesmo tom de prece que percorre este poema, na linha de (“O ENCOBERTO”). Com efeito, é nesta parte que se refere o desfazer, a morte do império português, um império moribundo, que exige o lançamento do gérmen da ressurreição, antevendo-se também, o nascimento, isto é, o despoletar para a vida, porque D. Sebastião viria, numa manhã de nevoeiro, comandar os portugueses, dando-lhes novo alento, fazendo-os acreditar na sua superioridade, na sua potencialidade para construir um novo império.
Assim passamos à leitura do poema.
ESTRUTURA INTERNA (Sinopse)
A harmonia a nível formal perpassa a