O desconforto em amarelo manga e o realismo cinematográfico
O filme Amarelo Manga (2002), de Cláudio Assis apresenta diversos aspectos da estética realista do cinema. Vamos tentar explorar a ligação deste filme com o realismo cinematográfico por meio da utilização que se faz do elemento corpóreo. Nossa análise se baseará no desconforto corpóreo físico, moral e existencial dos personagens, assim como na abordagem estética do espaço fílmico e da utilização da contingência como forma de posicionamento perante a realidade física. Desconforto aqui não deve ser entendido apenas como ausência de conforto, mas também como indignação, insatisfação, como um posicionamento crítico diante de situações que incomodam. Não deve ser entendido como juízo de valor e sim como uma característica estética e moral diante da realidade física filmada. Os corpos (o desconforto físico)
Uma das características do realismo no cinema é mostrar os personagens em situações corpóreas de desconforto como sofrimento, falta de ar, trabalhos desagradáveis, suor, mau cheiro e a presença da morte, entre outras. Elementos que não faltam às personagens. Lígia (Leona Cavalli), proprietária do Bar Avenida, levanta-se nua da cama, coloca um vestido, passa batom, pega um pano de prato e abre o bar. Está trabalhando. Mesmo que na realidade, no mundo físico, ninguém faça isso (normalmente vai-se ao banheiro, bebe-se água, etc) o que importa aqui é que a ligação da personagem com o trabalho é muito forte. Lígia é inconformada com a continuidade das situações cotidianas, apesar da imensa quantidade de acontecimentos que ocorrem durante um dia, as coisas não mudam. A indignação de não ter encontrado alguém que a mereça e a conclusão de que “só se ama errado” reflete seu grau de insatisfação.
Wellington, mais conhecido como Kanibal (Chico Diaz) trabalha em um matadouro, está sempre sujo de sangue, mal cheiroso e não raro com moscas a lhe rodear. Kika (Dira Paes), esposa de Kanibal, é uma crente que