O “desagradável” álbum de família de nelson rodrigues
INSTITUTO DE LETRAS
O “DESAGRADÁVEL” ÁLBUM DE FAMÍLIA
DE NELSON RODRIGUES
Letícia Walter
Teatro Brasileiro
Porto Alegre
2006
O “DESAGRADÁVEL” ÁLBUM DE FAMÍLIA DE NELSON RODRIGUES
Após o sucesso da montagem da peça Vestido de noiva, conhecida como o texto responsável pela entrada do teatro brasileiro em um tipo de linguagem artística pertinente ao que se definiu como Modernismo, Nelson Rodrigues (1912-1980) resolve enveredar por um caminho dos mais polêmicos. Inicia a série de peças que ele mesmo denomina pertencerem à categoria do “teatro desagradável”. São essas, as palavras de Nelson:
Com Vestido de noiva, conheci o sucesso; com as peças seguintes, perdi-o, e para sempre. Não há nesta observação nenhum amargor, nenhuma dramaticidade. Há, simplesmente, o reconhecimento de um fato e sua aceitação. Pois a partir de Álbum de família – drama que se seguiu a Vestido de noiva – enveredei por um caminho que pode me levar a qualquer destino, menos ao êxito. Que caminho será este? Respondo: de um teatro que se poderia chamar assim – “desagradável”. Numa palavra, estou fazendo um “teatro desagradável”, “peças desagradáveis”. No gênero destas, inclui (sic, devendo ler-se incluo ou incluí), desde logo, Álbum de família, Anjo negro e a recente Senhora dos afogados. E por que “peças desagradáveis”? Segundo já disse, porque são obras pestilentas, fétidas, capazes, por si sós, de produzir o tifo e a malária na platéia (RODRIGUES, 1993, p.37).
Nelson Rodrigues consegue se aprofundar bem mais no imaginário brasileiro; tanto que, desde a época dos anos quarenta até os dias de hoje, a simples leitura de suas peças nos faz estar diante de espectros certamente doentios e perturbadores, mas incontestavelmente humanos, ou seja, nossos. Entretanto, esses espectros têm algo a nos dizer, pois é a busca dos significados possíveis que os diversos dados “desagradáveis” podem assumir em sua