Licenciada em Letras
INSTITUTO DE ARTES - DEPARTAMENTO DE ARTE DRAMÁTICA
Disciplina: Poéticas VI
Prof.: Clóvis Massa
Graduando: Letícia Caroline Wolf
Data: 29/09/2014
O PERTURBADOR ÁLBUM DE FAMÍLIA
Não é fácil. Ler, digerir, escrever sobre. Em se tratando de Nelson Rodrigues, é impossível não sofrer uma incontinência de sentimentos, sensações e reflexões acerca do que é sermos humanos. O movimento é uma virada do avesso dolorosa que esmigalha qualquer máscara social e transforma as tradições desse uso, muitas vezes monolíticas e envernizadas, em material fétido - mas verdadeiro! Resulta uma organicidade tal, que assusta. Mas, alivia. Vira uma catarse vinda da transformação de refinadas artimanhas humanas em bolinhas de papel jogadas ao lixo. Em "desvelamento" da alma humana.
Pompeu de Sousa, na introdução da edição do Teatro quase completo de Nelson Rodrigues, de 1965, considera que "pela primeira vez é o Homem no seu drama de bicho da terra e criatura exilada de Deus. Um drama contemporâneo do Gênese e do juízo Final. Com acentos de um e de outro. Drama do Nascimento e da Morte do Homem." Ao falar "pela primeira vez", o jornalista se referiu ao contraponto chocante que a obra dramatúrgica de Nelson Rodrigues fez na cena teatral brasileira em relação ao "teatrão" de origens europeias apresentado, tanto na década de 40, quando do início de suas publicações, quanto em suas encenações (que, no caso de Álbum de família, foi liberada para encenação só em 1965). A intenção do autor era mesmo atacar a burguesia, provocar um transe capaz de mudar a identidade do público e fazê-lo refletir.
O "exagero" bem aparente dos temas, dos conflitos e dos personagens confirma a necessidade de manifestar um outro teatro, menos tradicional e realista, mas que refletisse, na sua linguagem, as fantasias do subconsciente e uma "visão trágica e alucinada da existência", como coloca Eudinyr Fraga, em Nelson Rodrigues expressionista, na edição de