O cotidiano na geografia
INTRODUÇÃO
Mas como é possível observar alguma coisa deixando à parte o eu? De quem são os olhos que olham? Em geral se pensa que o eu é algo que nos está saliente dos olhos como o balcão de uma janela e contempla o mundo que se estende em toda a sua vastidão diante dele. Logo: há uma janela que se debruça sobre o mundo. Do outro lado de lá está o mundo; mas e do lado de cá? Também o mundo: que outra coisa queríamos que fosse? Com um pequeno esforço de concentração, Palomar consegue deslocar o mundo dali de frente e colocá-lo debruçado no balcão. Então, fora da janela, que resta? Também lá está o mundo, que para tanto se duplicou em mundo que observa e mundo que é observado. E ele, também chamado “eu”, ou seja, o senhor Palomar? Não será também ele uma parte do mundo que está olhando a outra parte do mundo? Ou antes, dado que há um mundo do lado de cá e um mundo do lado de lá da janela, talvez o eu não seja mais que a própria janela através da qual o mundo contempla o mundo. Para contemplar-se a si mesmo o mundo tem necessidade dos olhos (e dos óculos) do senhor Palomar. (CALVINO, 1994:102)
O senhor Palomar, personagem do escritor Ítalo Calvino, descobre que ao observar o mundo precisa também se inserir nesta observação, pois também é parte do mundo que está observando, então, os nossos olhos são as janelas por onde o mundo contempla o mundo, pois somos constituintes da totalidade. Na maioria das vezes, e até inconscientemente, ou por falta de uma apreensão mais holística da realidade, somos direcionados para uma análise e compreensão dicotômica das coisas, ou seja, apartamos o objeto do pesquisador/observador e vice-versa, sem perceber que não há como fazer
- Mestre em Cultura, Memória e Desenvolvimento Regional. Professor de Prática de Ensino e Estágio Supervisionado em Geografia do Curso de Licenciatura Plena em Geografia da UNEB - Universidade