O consumo no brasil
21 de março de 2012 | 20h33
Fernando Dantas O economista Marcelo Neri, que dirige o Centro de Políticas Sociais (CPS) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), no Rio, é provavelmente o acadêmico que mais ajudou a consolidar a ideia da ascensão da classe C, a nova classe média popular que se tornou o centro de gravidade da economia, da política e das relações sociais no Brasil. Especialista em pobreza e desigualdade, Neri já lidava com esses temas na sua tese de Mestrado, sobre o boom de consumo do plano Cruzado. Ele nota que, nas últimas décadas, houve diversos momentos de forte ascensão social, como o milagre econômico, o plano Cruzado, o plano Real e a fase a partir de 2004, associada ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (Neri vê grandes méritos na gestão do ex-presidente, mas acrescenta que ele se beneficiou também de avanços econômicos e sociais da década de 90). Todos aqueles momentos foram diferentes, observa o economista. No milagre, o avanço social ocorreu apesar do aumento da desigualdade (mais do que compensada pelas espetaculares taxas de crescimento econômico), enquanto a partir do governo Lula a ascensão da classe C deu-se em boa parte por causa da melhoria na distribuição da renda. No plano Cruzado, a melhora foi fugaz, e quem cruzou a linha que separa a pobreza da classe média baixa retornou pouco tempo depois, quando a euforia inicial deu lugar à era da hiperinflação. Já o plano Real proporcionou um salto permanente, com a proporção dos brasileiros na classe C passando de 32% para 37,5%. O plano Real, porém, representou um degrau único, que foi seguido por uma fase de estagnação. Foi preciso que se passassem dez anos para que, a partir de 2004, o Brasil iniciasse o mais potente desses períodos de progresso social. Hoje, a classe C já abrange 55% da população, e Neri prevê que esta proporção chegue a 60% em 2014. Essa projeção está em “A Nova Classe Média: o Lado Brilhante da Base da Pirâmide”