O atrofiar das consciências
Dos muitos débitos que a mídia tem com a sociedade, o maior é o da banalização da notícia. Ao banalizar a informação, a mídia rejeita sua capacidade de fazer com que cada uma das pessoas que atinge, muito especialmente as milhões de pessoas que confundem reprodução com representação do real, tornem-se agentes de transformação da sociedade. Tome-se a televisão como exemplo. O meio não permanecerá massificado por muito tempo. Mas se as incontáveis horas gastas até agora com os grotescos embustes jornalísticos e ficcionais que invadem todos os dias os lares de milhões de espectadores, se esse tempo fosse aplicado na informação de todas essas pessoas, o mundo seria diferente (e a própria televisão seria certamente mais lucrativa).
A mídia tem falhado grosseiramente, entre outras coisas, em despertar a consciência ecológica das pessoas. É uma questão supra-partidária, praticamente consensual. E no entanto a população da Terra continua dilapidando todos os dias a qualidade de vida na sua vizinhança, inviabilizando a possibilidade de vida futura no planeta. O aquecimento global é a mais recente fonte de preocupação ambiental em todo o mundo e o estarrecedor é que a consciência em torno do problema tenha se formado tão recentemente.
A entrevista de James Lovelock nas páginas amarelas de Veja (data de capa 25 de outubro de 2006) deveria ser de leitura obrigatória, para ficar numa escala bastante acessível. Para o cientista inglês, já em 2040 a Terra se tornará um planeta praticamente sem condições de abrigar vida humana. Cerca de 80% da humanidade desaparecerá antes do final deste século e os 20% restantes protagonizarão formidáveis correntes migratórias para o Ártico. Alguns cientistas acreditam que Lovelock exagera. Ninguém o acusa de estar inventando.
A desatenção da mídia à sua obrigação de informar tem colaborado para que a praia ou o igarapé que estava ao lado desapareçam como por encanto num par de anos. Pode-se visualizar a