O argumento do Deus Enganador para Descartes
Trabalho de Filosofia
Trabalho de Filosofia
O argumento do Deus Enganador “Está gravada no meu espírito uma velha crença, segundo a qual existe um Deus que pode tudo e pelo qual fui criado tal como existo. Mas quem me garante que ele não procedeu de modo que não houvesse nem terra, nem céu, nem corpos extensos, nem figura, nem grandeza, nem lugar, e que, no entanto, tudo isto me parecesse existir tal como agora? (…) Porventura Deus não quis que eu me enganasse deste modo, ele que dizem que é sumamente bom (…).
Vou supor por consequência, não o Deus sumamente bom, fonte da verdade, mas um certo gênio maligno, ao mesmo tempo extremamente poderoso e astuto que pusesse toda a sua indústria em me enganar. Vou acreditar que o céu, o ar, a terra, as cores, as figuras, os sons e todas as coisas exteriores não são mais do que ilusões de sonhos com que ele arma ciladas à minha credulidade.”
Descartes, Meditações metafísicas, tr. Gustava de Fraga, Almedina, p.110-114.
É evidente que o argumento do Deus Enganador está intrinsicamente ligado ao cogito cartesiano. A dúvida metódica consistirá, portanto, em primeiro lugar, em considerar provisoriamente como falsas todas as nossas opiniões passadas, mas, em seguida, e sobretudo, em meditar longamente sobre as razões que podemos ter para coloca-las efetivamente em dúvida. Impõe-se um esforço voluntário e prolongado para destruir nosso inveterado pendor a crer no testemunho dos nossos sentidos e para tornar-nos também espontaneamente desconfiados a respeito daquilo que permanecemos até o momento crédulos. A atenciosa consideração dos erros perpetuamente cometidos por eles, assim como das ilusões de nossos sonhos ou da loucura, deve levar a razão a nunca se fiar nas percepções sensíveis; o exame dos erros cometidos por ela própria, até nas matérias mais evidentes, deve outrossim convencer que ela talvez seja essencialmente incapaz de atingir alguma verdade.
Portanto, resumamos