O apoio de cuba à luta armada no brasil: o treinamento guerrilheiro
Denise Rollemberg
«Dizia-se «ilha» ou «Ponto Um» e todos nós sabíamos que era Cuba, nome tão impronunciável como nossos nomes». Flávio Tavaresii
Nos anos 1960 e 1970, uma mística envolvia a experiência do treinamento guerrilheiro em Cubaiii. E essa mística não envolveu unicamente a esquerda que buscava se preparar para enfrentar o sistema capitalista e o regime civil-militar instaurado em 1964. A documentação dos arquivos da repressão - trabalho de pesquisa, objetivos, preocupações, termos usados, e, sobretudo, o tratamento dado a quem havia passado pelo treinamento -, mostram a importância que lhe era atribuída. Em novembro de 1972, por exemplo, I Exército fez circular pelos diversos órgãos de informação um dossiê detalhado de 107 páginas, organizado pelo Centro de Informação do Exército, com dados e fotos sobre todos os 219 militantes treinados ou suspeitos de terem treinado em Cubaiv. No ofício, encaminhando o trabalho, o chefe do Estado Maior do I Exército afirma «...o fato de ter freqüentado um «Curso de Guerrilha» em CUBA como um indício importante para a caracterização da periculosidade de um terrorista» (grifo no original)v. Mário Japa, codinome de Shizuo Osawa, da VPR, lembra o status que dava ir treinar em Cuba: «Todo mundo queria ir. Era quase um batismo de fogo: tinha que participar de uma ação militar e tinha que ir treinar em Cuba»vi. Apenas uma minoria entre os que treinaram voltou ao Brasil. A partir de determinado momento, a repressão condenou à morte todos que tivessem passado pelo treinamento. E, de fato, entre os que foram presos, os que sobreviveram são exceções. Treinamento guerrilheiro na Ilha! A primeira impressão que o historiador tem hoje, passados tantos anos, é como se houvesse nessas palavras um poder em si mesmo, que suscitava especial atenção, tanto entre a esquerda como entre a direita. Parece-me importante, portanto, compreender o treinamento guerrilheiro,