o alienista
Pretende o nobre varão separar o reino da loucura do reino do perfeito juízo, mas a confusão em que ambas se misturam acaba aborrecendo o Doutor, que, para levar a efeito a seleção dos loucos, tem que saber o que é a normalidade. Assim, qualquer desvio do que era o comportamento médio, a aparência pública, qualquer movimento interior, que diferisse da norma da maioria era objeto de internação, ao ponto de quatro quintos da população ser digna de receber ordem de internação.
No Alienista, porém, a loucura é antes de tudo uma arma com a qual Simão Bacamarte cresce aos olhos da sociedade. Uma sociedade ainda deslumbrada pelo poder e pela fama. Aqui, anacrônicos e deslocados são os que não compreendem a árdua tarefa com a qual se imbuiu o médico: descobrir, classificar e curar, com a ajuda da Ciência, a insanidade dos homens. O hospício é a Casa do Poder, e Machado de Assis sabia disso muito antes da antipsiquiatria de Lacan e das teses de Foucould.
Mas deixando a psicologia de lado, cabe dizer que o nobre Bacamarte foi bem recebido pela população de Itaguaí, mas a aprovação cessa quando o médico passa a recolher na Casa Verde pessoas em cuja loucura a população não acreditava. Nasce então um novo líder popular, o barbeiro Porfírio, que lidera uma rebelião contra o hospício. Tomado o poder, Porfírio – que exigia a demolição da Casa Verde – rende-se à ciência e aceita que Bacamarte continue realizando seus experimentos. A sociedade se rebela novamente e eis que aparece outro barbeiro, e toma novamente o poder.
Após a intervenção direta da Coroa, as sublevações são contidas e os poderes constituídos voltam à normalidade. Bacamarte, entretanto, muda seus conceitos e solta todos os loucos e adota critérios inversos para a caracterização da loucura: os loucos agora são os