O advento da enciclopédia

I – O ADVENTO DA ENCICLOPÉDIA

Passados três séculos do advento das correntes intelectuais e filosóficas que se denomina genericamente de Iluminismo e o seus legados de racionalidade e busca pela elevação do espírito a partir das ciências ainda pairam sobre nós. A propósito, dentre as exímias heranças de um tempo em que a preocupação era dar conta de um mundo tão diverso, trazendo à baila novos caminhos e direcionamentos, temos os compêndios enciclopédicos produzidos às luzes do século XVIII cujos objetivos não eram outros senão sistematizar e democratizar conhecimentos, popularizando saberes que relativizavam a própria ordem então vigente. Unidos num projeto ambicioso de humanismo, universalidade, secularização e, principalmente, liberdade os enciclopedistas iluministas pretendiam levar a luz da razão às trevas da ignorância, emancipando o homem e desviando a ênfase no divino, no misticismo e na superstição em favor da ciência e da investigação crítica. Deriva de Kant a ideia de superação a minoridade, que seria a incapacidade de homem pensar autonomamente, sem a influência ou orientação externa. Essa, por sua vez, seria responsabilidade do próprio homem a quem falta decisão e coragem de não se deixar dirigir por outros indivíduos e pela própria sociedade e só seria superada pela ilustração que leva ao Esclarecimento; resumidamente, o pensamento de Kant é expresso em sua máxima: Sapere aude![1] Assim, a necessidade de difusão dos ideais iluministas culminou na produção de diversas obras enciclopédicas ao longo do século XVIII que se tornariam poderosos instrumentos de divulgação das Luzes. Obra magna da propaganda iluminista foi a publicação, em Paris, no ano de 1751, do primeiro volume da Encyclopédie, de D´Alambert e Diderot, grande síntese dos conhecimentos científicos da época que consolidou o século XVIII como “... um século enciclopédico”[2]. Além desta publicação, cujo último volume só foi editado e impresso em 1772, a