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Miriam Furtado Hartung
Universidade Federal de Santa Catarina
RESUMO: Historicamente a relação entre a Antropologia e o Estado tem sido marcada por momentos de intensa e efetiva participação dos antropólogos na formulação e/ou aplicação de políticas estatais. No Brasil, o engajamento político com os grupos estudados fez da disciplina uma eterna crítica do Estado, mesmo quando por este é chamada a opinar sobre a situação de seus “objetos” de estudo. Não restam dúvidas de que a relação entre Antropologia, Estado e os coletivos sociais é complexa, conflituosa e ambígua. Neste artigo pretendo discutir essa questão partindo da situação de elaboração do relatório antropológico sobre a situação da comunidade quilombola Invernada Paiol de Telha (PR), solicitado pelo Estado, no caso representado pelo
Instituo Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA). A proposta aqui é menos uma crítica ao já bem conhecido modo como o Estado tem se relacionado com os coletivos sociais e mais trazer outros elementos que possibilitem discutir quais os pressupostos político-teórico-metodológicos da
Antropologia nesta triangulação com o Estado e os coletivos sociais.
PALAVRAS-CHAVE: Antropologia e Estado, remanescentes de quilombos, políticas públicas.
Miriam Furtado Hartung. “Ser E não ser”, eis a questão...
Introdução
Já há algum tempo o caráter conflituoso, tenso e muitas vezes contraditório da relação entre a Antropologia e o Estado tem sido alvo de reflexões e discussões pela própria disciplina, fazendo parte, até mesmo, do que se pode chamar de História da Antropologia. Episódios como a destituição de Boas da presidência da American Anthropological
Association (AAA), em 1919, em razão de sua crítica à participação dos antropólogos em políticas de Estado, são emblemáticos da ambiguidade da área acerca da histórica e constitutiva relação entre Antropologia e
Estado (Mattos, 2008). No caso