I. a ignorância como estratégia destinada à compreensão do humano
O texto que recebeu o título acima tem como objetivo primeiro colocar em questão o social e a sociedade. Colocar em questão significa para nós, não apenas questionar, problematizar os temas indicados com o objetivo de descobrir qual a melhor resposta ou qual o melhor modo de conceituá-los. Ao problematizar esses dois temas, por um lado, José Ortega y Gasset pretende colocar em movimento o modo como uma determinada corrente de pensamento filosófica e sociológica, toda a tradição filosófica desde Aristóteles e o positivismo, conceberam o social e a sociedade e ao mesmo tempo pensaram de tal modo que engendraram instituições e ações tendo em vista uma percepção equivocada acerca do social, da sociedade e consequentemente do homem. Por outro lado, ao colocar em movimento esses dois termos, o social e a sociedade, Ortega y Gasset não apenas busca realizar uma “limpeza” do caminho, entulhado pela tradição, mas também, à medida que limpa, que desobstrui o caminho, ele pretende encontrar um fenômeno social novo[1], primevo, originário, no sentido de uma realidade radical. Sua busca é por descobrir, trazer à tona um momento constitutivo primeiro, anterior a todos os outros, de modo que a partir dessa base, dessa anterioridade, ele mesmo, enquanto pensador, possa fazer vir à tona todas as outras realidades. O ponto inicial do capítulo intitulado: Ensimesmamento e alteração[2] é a explicitação de uma dura crítica aos criadores da sociologia, mais exatamente a Comte, Spencer e Bergson, intelectuais que se propuseram a realizar estudos sociológicos acerca da sociedade de modo que pudessem, a partir de tais estudos, explicar o significado e o conceito de social e de sociedade, pois desse modo eles entendiam que seria possível dominar, dirigir, conduzir, organizar e instruir o progresso e também os rumos, o caminho por onde os governantes deveriam projetar suas ações e consequentemente conter