Classicismo x modernidade
O século XX marcou, no domínio das artes, a supremacia de duas realidades oriundas de rupturas históricas: de um lado, o fenômeno da arte moderna enquanto transgressão e superação dos cânones estéticos aceitos por nossa civilização desde a Antigüidade Clássica; de outro, o fenômeno da cultura de massa, decorrente do impacto das novas tecnologias sobre os meios de comunicação. Hoje, com a consolidação das conquistas da arte moderna e com o triunfo da cultura de massa, as dicotomiasclássico x moderno e erudito x popular se impõem mais do que nunca.
Na verdade, a cultura ocidental sempre oscilou entre duas grandes dicotomias: a herança clássica, sobretudo greco-romana, em oposição à idéia de modernidade, e a cultura erudita, praticada pela e para a aristocracia, por oposição à cultura popular, de caráter vulgar e plebeu. A primeira dessas dicotomias se coloca, ainda no Renascimento, na forma de um questionamento por parte da classe intelectual, à qual pertenciam artistas, filósofos, pensadores e críticos, quanto ao próprio rumo da cultura européia, recém-saída das brumas da Idade Média. Uma vez rejeitada a ideologia medieval – e suas implicações nas artes –, havia agora dois caminhos a seguir: ou o retorno aos padrões estéticos e filosóficos da Antigüidade Clássica, ou a criação de uma cultura totalmente nova, a partir do nada. Os intelectuais e criadores dos séculos XV e XVI optaram, como se sabe, pelo primeiro caminho.
Assim, se a Idade Média se defrontou com o conflito entre a cultura antiga e os valores judaico-cristãos a ela superpostos, procurando adaptar a filosofia aristotélica aos ditames ideológicos do cristianismo – donde o surgimento da escolástica –, agora o Renascimento vinha sobrepor a cultura antiga aos valores ocidentais originários da Idade Média. Contraditoriamente, o termo Renascimento, aplicado ao movimento artístico e cultural desse período, procurava aludir a um verdadeiro renascer da cultura greco-romana ao mesmo