A D Cada Ausente
A década ausente. É preciso reconhecer a arquitetura brasileira dos anos 196070 (1)
Ruth Verde Zein
A arquitetura brasileira moderna é um mito; a arquitetura brasileira dos anos
1960 é um mistério (2). O que aconteceu depois de Brasília (1960) e antes da reflexão crítica do pós-Brasília (1975) (3)? Trata-se de período esquecido não apenas pela historiografia da arquitetura brasileira, como igualmente subestimado na historiografia internacional elaborada a partir dos anos 1980, em “revisões críticas” que descartaram com demasiada pressa e algum preconceito inumeráveis exemplares arquitetônicos modernos e radicais realizados nos anos 1960-70. Mudando o milênio e superados os motivos que alimentaram tal descarte e esquecimento é necessário rever as revisões; e assim fazendo constata-se a existência de inumeráveis obras daquele momento que, sob qualquer ótica que sejam examinadas, seguem sendo de alto interesse, e não é mais possível seguir ignorando, não apenas em si mesmas, mas no seu lugar na história. Se não por outros motivos, porque uma parte dos jovens arquitetos hoje atuantes as redescobriram e delas tem feito seu mote e lema.
Na ausência desse reconhecimento necessário o que se nota é que boa parte dos nossos autores segue empregando, para organizar seus relatos sobre a história recente da arquitetura brasileira, um esquema seqüencial, linear e simples, limitado a três momentos sucessivos, mais ou menos estanques (4): a)
Movimento Modernista (com foco nas realizações cariocas); b) Brasília; c) Pós
Brasília (com foco na multiplicidade de tendências do período após 1980). Tal esquema não apenas desconsidera como não permite que se insira, de maneira consistente, quase todas as arquiteturas realizadas no Brasil durante pelo menos uma quinzena de anos, de 1960 até meados dos anos 1970.
Não por coincidência, boa parte da melhor arquitetura brasileira dos anos 196070 pode ser situada na vertente brutalista, e muito especialmente, na