A voz do corpo
Artigo: A voz (do) corpo: memória e sensibilidade.
Publicado em : Urdimento - Revista de Estudos Pós-Graduados em Artes Cênicas / Universidade do Estado de Santa Catarina. Programa de PósGraduação em Teatro. - Vol 1, n.6 (Dez. 2004) - Florianópolis: UDESC / CEART, 2004. Autor: Fernando Aleixo - Mestre em Artes Cênicas pela UNICAMP; ator e pesquisador teatral do Grupo República Cênica; Professor do Colégio Técnico de Campinas - UNICAMP; (E-mail: aleixo@iar.unicamp.br). “A verdade é que a memória não consiste, em absoluto, numa regressão do presente ao passado, mas pelo contrário, num progresso do passado ao presente. É no passado que nos colocamos de saída. Partimos de um “estado virtual”, que conduzimos pouco a pouco. Através de uma série de planos de consciência diferentes, até o ponto em que ele se torna um estado presente e atuante, ou seja, enfim, até esse plano extremo de nossa consciência em que se desenha nosso corpo”. (Henri Bérgson) O teatro como a arte do encontro, da presença, do contato e da cumplicidade evidencia o corpo como memória, como emoção, como invenção, como símbolo e poesia. A presença corpórea do ator por meio do movimento, da voz e da ação é a materialidade da cena que cria e instaura relações intercorpóreas e sinestésicas. Nesta dimensão - concreta e sensorial - a voz do ator existe na sabedoria do corpo. É o corpo que sabe o caminho da produção vocal, do movimento e da sua expressão. Trabalhar a voz do ator é investir no desenvolvimento de um saber concreto detido por nossa carne, pois a voz é uma manifestação corpórea e deve ser aperfeiçoada por meio de elementos que objetivem um processo de aprendizado sensível. Neste sentido, estabelecer condições corporais favoráveis à manifestação plena da voz é, para o ator, mergulhar em um território pessoal e reconhecer o potencial que representa seu material sensível. A voz, como emanação do corpo, assume diferentes qualidades, revela o conteúdo orgânico das emoções e das experiências que