A Volta da pequena África
Um relato do sentimento de nossa região.
“Há muito tempo nas águas da Guanabara/ O dragão do mar reapareceu/ Na figura de um bravo feiticeiro/ A quem a história não esqueceu/ Conhecido como o navegante negro
Tinha a dignidade de um mestre-sala / E ao acenar pelo mar na alegria das regatas
Foi saudado no porto pelas mocinhas francesas/ Jovens polacas e por batalhões de mulatas/ Rubras cascatas/ Jorravam das costas dos santos entre cantos e chibatas/
Inundando o coração do pessoal do porão/ Que, a exemplo do feiticeiro, gritava então/ Glória aos piratas/ Às mulatas, às sereias/ Glória à farofa/ à cachaça, às baleias/ Glória a todas as lutas inglórias/ Que através da nossa história não esquecemos jamais/ Salve o navegante negro/ Que tem por monumento as pedras pisadas do cais/ Mas salve o navegante negro/ Que tem por monumento as pedras pisadas do cais/Mas faz muito tempo”
É quase inacreditável, mas a maioria de nós ao receber o simples questionamento “Onde você mora?” passa por um verdadeiro constrangimento. Ao respondermos “moro no Morro do Pinto”, logo ouvimos um sonoro: “Onde?”. Aí tentamos explicar: “Fica no Santo Cristo, ali na Zona Portuária. Poxa, não sabe? Ali perto da Providência...” Ouve-se, então, uma espécie de “Ah, sei. A Providência... acho que já ouvi falar dela”. Na verdade, na maioria dos casos, a pessoa conhece a Providência pela parte ruim da história, que já foi estampada nas páginas dos jornais.
Depois do silêncio habitual após esta conversa inicial, abre-se espaço para falarmos com orgulho do rico bairro onde nascemos e crescemos. Depende de nós a manutenção da história, da cultura e dos hábitos que sobrevivem de uma geração para outra. Quem de nós, diante do simples ato de conversar com nossos avós, tios e vizinhos de gerações anteriores, não se enriquecia ao saber das histórias do Porto do Rio de Janeiro, do cheirinho de fruta que vinha de lá, do grande convívio popular e da fábrica Bering, que