a vila
“A Vila” trata da utopia de uma sociedade perfeitamente harmônica. Um grupo de indivíduos, traumatizados pela violência da cidade grande, decide se retirar para o campo e fundar uma comunidade pura, intocada pelo mal do mundo – um lugar sem dinheiro e pecado. Para isolar a comunidade do contato com a civilização, mantendo sob controle a curiosidade dos jovens a respeito do mundo, os “pais fundadores” do lugar inventaram um inimigo terrível: criaturas monstruosas que vivem na floresta que os cercam, cujo território não poderia ser violado, um metro que fosse. Seres tão abomináveis que sequer tinham nome (“those we don’t speak of”).
No entanto, tudo o que os habitantes da vila mais fazem é falar sobre eles. A contradição é apenas aparente. Se o discurso interdita aquilo que ele mesmo não cessa de colocar em movimento, é para cumprir a função de reelaborar socialmente o trauma, a ferida que garante o cimento da coesão social. “A Vila” não nos deixa esquecer que o medo é talvez o mais poderoso elemento de socialização, e que a política é por vezes a arte de manter o povo suficientemente amedrontado: nem em excesso, a ponto de paralisar os indivíduos, nem em falta, de modo a abrir espaço para a desobediência. A primeira metade do filme é dedicada a esta pedagogia do medo – na