O país rural e senhorial, nascido no Entre Douro e Minho, cedo se complementou com um país de cidades e vilas concelhias. Trata-se do país urbano e a sua pujança e protagonismo verificam-se do século XII em diante. Mas em que contexto as cidades e vilas irromperam e se desenvolveram em território português? Recuemos no tempo. Em 1064, Coimbra é definitivamente conquistada aos muçulmanos. Em 1075, a construção da catedral de Santiago de Compostela, onde se abrigava o túmulo do apóstolo, faz deste local um dos centros de devoção mais concorridos da Cristandade medieval. Tal significa que o espaço a norte do Mondego, que em breve fará parte do reino de Portugal, se vê sulcado de peregrinos e caminhos que demandam a cidade do noroeste da Galiza. Com tal movimento, é natural que os núcleos urbanos se revitalizem, readquirindo um dinamismo desconhecido há séculos, pelo estado de guerra então vivido. O Porto e Guimarães, por exemplo, saem beneficiados. Entretanto, a Reconquista prosseguia e, com ela, territórios de forte presença urbana, que o domínio muçulmano além de preservar soubera estimular, acrescentavam-se ao Norte tradicionalmente rural e senhorial. Referimos já a conquista de Coimbra; à cidade do Mondego juntavam-se, na segunda metade do século XII, Lisboa, Santarém e Évora como pólos estruturadores da futura evolução económica e política do reino de Portugal. Doravante, o Entre Douro e Minho ficará secundarizado face a um Centro e Sul que dele recebe excedentes demográficos, que herda os saberes artesanais e os contactos comerciais do mundo muçulmano, que valoriza as transacções monetárias e onde comunidades de homens livres, e não exclusivamente os senhores, tomam nas mãos o exercício do poder local. Eis um dos motivos por que Afonso Henriques transfere a capital de Guimarães para Coimbra. Libertava-se das exigências da fidalguia nortenha, que o pusera no trono e angariava apoios de estirpes menos nobres, é certo, mas, nem por isso menos gratas e ousadas.
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