A transição da fecundidade e o sistema de respostas múltiplas em Portugal
Análise Social, vol.
XLII
(183), 2007, 471-484
A transição da fecundidade e o sistema de respostas múltiplas em Portugal
INTRODUÇÃO
O processo de declínio da fecundidade, que se iniciou na maioria dos países da Europa em finais do século XIX-inícios do século XX, constituiu matéria de inúmeros debates, sucedendo-se no tempo duas visões dominantes.
A primeira, decorrente da teoria da transição demográfica, associa a adopção da contracepção pelas famílias à modernização sócio-económica e ao declínio da mortalidade (nomeadamente a infanto-juvenil), que teria levado a um processo de adaptação às novas circunstâncias de vida, onde as motivações individuais seriam o motor das mudanças ocorridas.
Uma perspectiva oposta surge na sequência do European Fertility Project, delineado para estudar o declínio da fecundidade na Europa segundo a óptica anterior, mas cujos resultados estão na origem de uma nova visão. Esta aponta como principais factores de mudança as questões sócio-culturais, a dinâmica dos processos de difusão de informação e a importância das atitudes colectivas. Esta oposição é tão forte que a expressão transição demográfica deixa progressivamente de ser utilizada, sendo substituída pela transição da fecundidade (van de Walle, 1992).
Outra abordagem, minoritária na maioria da literatura, que salienta o papel mediador desempenhado por mecanismos demográficos, foi apontada inicial* Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa.
** Gostaria de agradecer aos professores Maria Luís Rocha Pinto, orientadora desta investigação, e João Andrade e Silva o apoio dado durante a elaboração do projecto de doutoramento que conduziu a este texto. Esta investigação não seria possível sem a contribuição decisiva dos professores Dov Friedlander e Javier Silvestre, que me disponibilizaram dados não publicados para a Inglaterra e a Espanha. Quero ainda manifestar o meu agradecimento pelas indicações sugeridas