A teoria e a prática na psicologia hospitalar
O contato que adquiri recentemente com o Serviço de Psicologia da Área Cirúrgica do Hospital Universitário Antônio Pedro, como bolsista de extensão, me trouxe certas questões que na ignorância do funcionamento institucional vigente no ambiente hospitalar, e principalmente do papel do psicólogo nessa estrutura, encontrariam dificuldade exponencial para se manifestarem. Mesmo participando dos atendimentos apenas indiretamente, através de diálogos informais e das supervisões semanais, as dificuldades relatadas na prática de um atendimento de viés psicanalítico a pacientes de um hospital também me são caras, visto que fazem (ou podem vir a fazer) parte do saber psicanalítico que, historicamente, nasceu das próprias dificuldades nos atendimentos médicos. Neste trabalho, procurarei explicitar a minha visão sobre o funcionamento do trabalho de uma psicologia que preza pela escuta ao inconsciente num ambiente hospitalar, conjugando a prática proposta na bibliografia e a observação da prática propriamente dita que ocorre no HUAP.
No ambiente hospitalar há uma demanda normativa vigente. A partir do momento histórico em que o hospital deixa de ser um lugar de fazer morrer para um lugar de fazer viver (FOUCAULT, 1979) a colaboração do paciente com o tratamento recebido se faz necessária na mesma medida em que o próprio tratamento se torna necessário. O doente agora tem o dever de querer melhorar, segundo a norma que vigora. Acontece que essa colaboração só é aceita como válida caso esteja dentro do padrão normal médico, portanto ignorando qualquer tipo de subjetividade presente na resposta do paciente (na teoria, visto que a subjetividade está também presente na prática médica). Assim, o doente se encontra impossibilitado de se apropriar de sua enfermidade e colocar-se numa posição diferenciada, de onde poderia interferir na sua reação em relação à doença ou mesmo em como os sintomas são organicamente expressos. O trabalho