a teoria do mundo
12 de novembro de 2013
O modelo tradicional da indústria jornalística enfrenta um duplo desafio diante do novo ambiente comunicacional e das possibilidades abertas pela troca de informações no mundo digital. De um lado, a internet dessacraliza o papel do jornalista como intermediário exclusivo entre os acontecimentos e o público. Indivíduos conectados podem não apenas consumir informação em diferentes plataformas como se expressar livremente na web. Os códigos que asseguravam às empresas de comunicação a manutenção de um lugar de fala autorizado parecem, portanto, menos estáveis no cenário de transformações tecnológicas que permitem aos cidadãos novos modos de interação. O segundo desafio se relaciona com a crise de representatividade do chamado jornalismo hegemônico.
A cobertura midiática das manifestações populares de junho e julho e, mais recentemente, da greve de professores da rede pública no Rio de Janeiro, desconstrói a ideia presente no senso comum de que a imprensa atua permanentemente em defesa da coletividade, não se subordinando a nenhum outro interesse que não seja a verdade. A capa condenatória de O Globo “Lei mais dura leva 70 vândalos para presídios” (17/10/2013), objeto de análise em vários artigos deste Observatório, é ilustrativa da fragilidade dessas representações que forneceram historicamente as condições de aceitabilidade do discurso jornalístico.
Atitude antidemocrática
O contraponto crítico dos enunciados da imprensa tradicional sobre os protestos apareceu com vigor ao longo dos últimos quatro meses nas redes sociais. Munidos de dispositivos móveis, os coletivos de comunicação ganharam visibilidade acompanhando de perto os eventos. Em que pesem a falta de contextualização dos eventos, transmitidos ao vivo, sem edição – e, portanto, sem mediação jornalística – e a baixa qualidade das imagens, os conteúdos postados na rede contribuíram e permanecem sendo úteis para denunciar os abusos