A Situação da Música no Fim do Mundo Antigo
Roma, no tempo da sua grandeza, fizera reinar a paz em quase toda a Europa ocidental, bem como em muitas zonas da África e da Ásia, mas, entretanto, enfraquecera e já não tinha capacidade para ser defender. Os bárbaros iam chegando do Norte e do leste, e a civilização comum a toda a Europa desagregava-se em fragmentos que só muitos séculos mais tarde começariam gradualmente a fundir-se de novo, dando origem às nações modernas. O declino e a queda de Roma marcaram tão profundamente a história européia que ainda hoje temos dificuldade em nos apercebermos de que, paralelamente ao processo de destruição, se iniciava então, paulatinamente, um processo inverso de criação, centrado na igreja cristã. Até ao século X foi esta instituição o principal e muitas vezes o único laço unificador e canal de cultura da Europa. As primeiras comunidades cristãs, não obstante terem sofrido durante trezentos anos perseguições mais ou menos esporádicas, cresceram regularmente e disseminaram-se por todas as regiões do império. O imperador Constantino adotou uma política de tolerância após a sua conversão, em 312, e fez do cristianismo a religião da família imperial. Em 395 a unidade política do mundo antigo foi formalmente desfeita, com a divisão em Império do Oriente e Império do Ocidente, tendo por capitais Bizâncio e Roma. Quando, após um século terrível de guerras e invasões, o último imperador do Ocidente foi, finalmente, deposto do seu trono, em 476, os alicerces do poder papal estavam já tão firmemente estabelecidos que a Igreja se encontrava em condições de assumir a missão civilizadora e unificadora de Roma.
A herança grega A história da música ocidental, em sentido estrito, começa com a música da igreja cristã. Todavia, ao longo de toda a Idade Média, e mesmo nos dias de hoje, artistas e intelectuais têm ido continuamente à Grécia e a Roma à procura de ensinamentos, correções e inspirações nos mais diversos campos de