A Sa De Mental De Suzane Von Richthofen
Diante do júri que a condenou, a garota que matou os pais parecia sofrer de um transtorno dissociativo: pensa, age, mas não sente
ADELAIDE CAIRES
O que leva uma filha a matar pai e mãe? A condição mental de parricidas (assassinos de pai e mãe) é estudada desde o império romano, e aponta para condições particulares de funcionamento mental, quer de natureza interna, como delírios e quadros de psicoses, ou externa, como o uso de drogas. É comum que a ação criminal seja dirigida a um dos pais apenas, sendo mais raro, como no “caso Suzane”, o ataque aos dois, o que torna o estudo mais complexo.
As teses de defesa de Suzane von Richthofen baseavam-se nas premissas de ela ter sido dominada psiquicamente pelo namorado Daniel Cravinhos. Os argumentos no julgamento, que a condenou a 39 anos de prisão, incluíam a diferença de idade (ela é três anos mais jovem do que ele – tinham 18 e 21, à época dos fatos), a perda da virgindade (o que a tornaria mais dependente emocionalmente, segundo o defensor) e a imposição dos pais para que terminasse o namoro, até o uso crescente e contínuo de entorpecentes (no caso a maconha e alguns inaladores), introduzido pelo namorado.
Os aspectos psíquicos subentendidos nos argumentos sugerem uma personalidade dependente, que poderia configurar um transtorno de personalidade do tipo dependente. Transtorno é uma desordem importante que compromete a personalidade, mas não necessariamente a saúde mental. O tipo dependente indica, em geral, uma pessoa submissa, que se deixa conduzir pelo outro sem crítica ou reserva (pode estar enlevada pela admiração e/ou paixão ou por uma quase ausência de iniciativa própria).
Embora a observação do comportamento da ré durante todo o julgamento não indique que Suzane possa ser portadora deste tipo específico de transtorno ou mesmo de “psicopatia”, o fato de ela não ter sido examinada enfraqueceu ainda mais as teses. Isso ocorreu por uma escolha dos advogados de defesa,