A Revolução Francesa
MODERNIDADE POLÍTICA NASCEU COM 'BANHO DE SANGUE'1
JOÃO BATISTA NATALI
Da Reportagem Local
O carrasco se detém numa aldeia, monta a guilhotina transportada em sua carroça, e procura o responsável local pela justiça revolucionária. Os condenados são perfilados e decepados um a um. O carrasco desmonta seu instrumento de execução e parte para outra aldeia, dando prosseguimento à sua insólita rotina.
A cena exemplifica um radicalismo, levado pelas circunstâncias às últimas consequências, e que deixou a França e a Europa de pernas para o ar. Foi a mais demorada e violenta das revoluções registradas no Ocidente. Guilhotinaram um rei e sua rainha - só entre março e setembro de 1793, em variados pontos da França, os carrascos decapitaram 16 mil verdadeiros culpados de traição ou simples suspeitos. Caiu a aristocracia para que, com o poder já transferido para uma burguesia altamente dinâmica e criativa, o sangue deixasse de jorrar com a estabilidade pré-napoleônica.
E se é verdade que os camponeses sem-terra e os artesãos proletarizados foram privados de conquistas sociais obtidas nos períodos de maior agitação revolucionária - como o sufrágio universal, o salário mínimo e o direito de greve -, é igualmente inegável que a vitória da burguesia foi também, para a
Europa, o triunfo da modernidade, com a conseqüente derrocada dos arcaísmos feudais.
A Revolução Francesa já foi objeto de abundantes bibliotecas para que suas raízes sejam conhecidas e dissecadas em profundidade. Não há divergências entre historiadores ao associarem, como grande estopim da eclosão, a bancarrota das finanças públicas e a recusa da nobreza em abdicar de seus privilégios. Eram-lhe reservadas todas as cadeiras episcopais, a alta oficialidade do Exército e da
Marinha. Contrariamente à nobreza britânica, por efeito da revolução do século 17, a francesa não pagava impostos, fazendo com que toda a carga tributária recaísse sobre os artesãos urbanos,