A República de Platão - Livro I
Inicia-se o livro com um diálogo entre Sócrates e Céfalo, na qual o assunto principal é a definição de justiça. No meio da discussão, entre tantas indagações, eis que surge o nome "Simónides"; este foi o responsável por dizer que o justo é todo aquele que pratica o bem aos seus amigos e o mal aos inimigos. Sócrates, entretanto, começa a refletir sobre o assunto, e a partir daí que não se falava mais em outra coisa. Ele (Sócrates) diz que o justo é justo por fazer o bem, e se ele faz o bem, não fará o mal, obviamente, nem aos oponentes; e se este não faz o mal, a definição de justiça imposta por Simónides estaria completamente desprovida de verdade. Trasímaco, no meio da conversa, faz questão de intervir e dizer que justiça é unicamente conveniente aos mais fortes - fortes em poder. Quem tem poder tem tudo, inclusive a justiça, e a usa como se fosse uma posse, quando e como quer. Um pastor, por exemplo, tem a função de cuidar e proteger suas ovelhas. Um verdadeiro pastor faria uma ceia para alimentar suas ovelhas, mas o injusto (o forte de poder) usaria isso para beneficiar a si próprio, alimentando-as apenas para engordá-las e ganhar o lucro na venda dos animais gordos. Sócrates concorda, sim, que a justiça é para os fortes, mas os fortes de mente, e explica: ser injusto qualquer um é, pois é fácil de se fazer; é o caminho do menor esforço. Usar alguém de escada para alcançar seus objetivos é ser injusto; mentir, ainda que pouco, é ser injusto, e a injustiça é fácil de ser cometida, cabe a qualquer um. Portanto, ser justo é uma qualidade dos fortes, e estes fortes são poucos. A partir disto que surge a virtude e o vício. Virtude nada mais é do que a justiça; ser justo é ter sabedoria, ser honroso e digno. O vício é totalmente o oposto: se ramifica na injustiça, e o injusto é ignorante. Dá-se que o injusto é incapaz de viver feliz ou em sociedade, sendo obrigado a se isolar pela ignorância e por tudo