A RELIGIÃO SOB O PONTO DE VISTA FILOSÓFICO
FRANCISCO VIEIRA JORDÃO
A Religião , enquanto forma de comportamento cujas regras se afastam das que regulam a vida diária, assenta numa dicotomia introduzida no mundo das referências humanas, que se traduz num duplo nível de realidade - o sagrado e o profano . Diferentemente de qualquer outro género da actividade humana , a Religião tem a sua génese na convicção de que existe uma realidade ( poder ou mistério ) que está acima da realidade do nosso contacto diário, com a qual o homem pretende comunicar e da qual deseja participar 1
O primeiro problema que se coloca perante o fenómeno religioso, é o de saber se se trata de algo adventício , isto é, surgido na História ou na vida dum indivíduo por razões estranhas ao mesmo fenómeno enquanto tal, ou se se trata de um fenómeno autónomo e inerente ao facto de ser homem. Os que defendem a origem adventícia e a dependência externa do fenómeno religioso consideram - no como algo que pode ser objecto de estudo em paridade com qualquer outro fenómeno e sujeito às mesmas leis de qualquer outro género de actividade humana. De entre estes defensores da religião como uma actividade ocasional e na dependência de circunstâncias de vária ordem, destacam-se os que vêem a sua origem na influência da sociedade , os que a ligam à necessidade de contornar as forças indomáveis da natureza e os que a fazem depender do dinamismo incontrolável do psiquismo humano.
O primeiro teorizador da origem social da religião foi Emile
Durkheim. Para este autor, "a sociedade contém todos os ingredientes para fazer despertar nos seus membros o sentido do divino". A sociedade é um "grande pai", que impõe a sua vontade a todos os "filhos" e tudo
1 J.Martín Velasco, "Fenomenologia de Ia Religión", in J.Gómez Caffarena e J.Martín
Velasco, Filosofia de la Religión, Rev. de Occidente, Madrid, 1973, I Parte, ps.73-124.
Revista Filosófica de Coimbra - n.° 4 - vol . 2 (1993 )
pp.