A Questão dos Universais
V.
30 N. 97 (2003): 187-202
OS ARGUMENTOS DE BOÉCIO ( CA . 480-524) PRO
E CONTRA OS UNIVERSAIS
NO “SEGUNDO COMENTÁRIO À ISAGOGE DE PORFÍRIO ”1
Bento Silva Santos
UFRJ
Resumo: O artigo tem em vista examinar o célebre texto de Boécio sobre sua discussão dos
Universais no Segundo Comentário à Isagoge de Porfírio. O problema medieval sobre os Universais tem início precisamente com as próprias observações de Boécio feitas a uma passagem da
Isagoge de Porfírio. De um lado, retomando as distinções de Porfírio consignadas em uma outra obra (Comentário às Categorias de Aristóteles segundo perguntas e respostas) acerca do termo
“communis”, Boécio as aplica ao problema dos Universais e elabora a seguinte crítica: a pluralidade das coisas às quais um universal, supostamente, julga ser comum é “contagiosa” e
“infecta” o próprio universal, tornando-o também múltiplo, e assim não “uma só coisa”. De outro, Boécio propõe uma teoria a favor dos Universais, segundo a qual a formação de conceitos universais e gerais sobre o mundo tem uma base objetiva, mas não arbitrária, a saber: os gêneros e as espécies só “existem nos indivíduos, mas são pensados como universais”.
Palavras-chave: Boécio, Porfírio. Pluralidade, Universais.
Abstract: The article aims to examine the most well known text of Boethius about the Universals in the Second Commentary on Porphyry’s Isagoge. The Mediaeval Problem of Universals starts precisely with Boethius’s own observation about Porphyry’s Isagoge. On one hand, considering
Este artigo é parte de um projeto mais amplo intitulado “A Querela Medieval dos Universais: antologia de textos traduzidos e comentados” que está em pleno andamento no Departamento de Filosofia da UFRJ. A primeira etapa desta pesquisa acaba de ser publicada: PORFÍRIO DE
TIRO (ca. 233-305), Isagoge, Introdução, tradução e comentário de Bento Silva Santos, São
Paulo, Attar Editorial, 2001.
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Síntese, Belo Horizonte, v. 30,